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A história do MaLuCo do Dia – As pegadas do Fantasma da meia amarela pelas ruas da cidade.

Naquela tarde de calor de um típico verão brasileiro, entre o almoço e uma reunião, eu parei para engraxar o meu sapato.

Sentei numa daquelas cadeiras que parecia cadeira de rei, um verdadeiro trono de veludo vermelho.

Sentei, levantei a barras da calça e abri o jornal do dia, que o engraxate me emprestou para ler enquanto ele limpava o meu sapato.

Meus olhos até fitavam aquele jornal, mas minha mente se desviava para outros momentos da minha vida provocada pela visão da caixa de engraxate.

Em fração de segundos, eu voltei na minha memória para a minha infância onde eu carregava um caixa de engraxate como aquela, feita pelo meu pai, que era um excelente carpinteiro.

Me lembrei do tempo em que eu era menino e saia com a caixa de engraxate pendurada nas costas oferecendo os serviços de limpeza de sapatos para todas as pessoas que passavam pelas ruas.

Eu me lembrei do dia em que aumentei radicalmente a minha clientela, quando estacionei a minha caixa de engraxate bem em frente da babearia do Zé, que ficava perto da minha casa.

Naquele dia eu tive um insight inteligente, o de que – quem ia cuidar do telhado, também ia querer cuidar do piso da sua imagem kkk

Deu certo e durante muito tempo eu passei horas e horas sentado na porta da barbearia esperando os clientes que iam cortar cabelo – era praticamente uma graxa por cabeça. kkk

De repente, me vi folheando o jornal, sem lê-lo e senti minha memória me transportando para a cidade Nova York, nos Estados Unidos, durante a minha primeira viagem ao exterior.

Como meus sapatos estavam um pouco sujos, eu parei numa estação de engraxate que ficava em frente a uma daquelas galerias nova iorquinas chiques e elegantes.

O que a minha memória trouxe naquele momento foi a sensação que tive entre estar sentado na cadeira de um engraxate em plena Nova York, na condição de executivo de sucesso, bem vestido de terno e gravata e a minha infância onde eu me posicionava exatamente do outro lado da caixa de graxa.

Naquele dia, o engraxate, querendo ser simpático e vendo que eu era um gringo, me perguntou de onde eu era – quando eu respondi que era do Brasil, ele foi logo me perguntando : – Escrava Isaura? kkk Você conhece a Escrava Isaura ? kkk

Dizendo que não e rindo daquela pergunta, me lembrei dele dizer que tinha vindo da Rússia ganhar a vida nos Estados Unidos e que lá na Rússia, um dos passatempos prediletos de sua família era se reunir a noite na frente da TV para assistir os capítulos daquela novela emocionante que fazia sucesso no mundo inteiro.

Na cabeça dele, ser um brasileiro poderia me tornar íntimo da escrava Isaura, como uma conterrânea que eu pudesse conhecer.

Da lembrança do engraxate da escrava Isaura, a minha mente voltou ao momento em que eu engraxava o sapato.

Foi ai que eu percebi que estava lendo o jornal de cabeça para baixo.

Então dobrei as suas folhas e quando ia colocar o jornal na cadeira vazia ao lado, pude perceber que um par de sapatos vermelhos da marca Prada.

Os sapatos estavam ali parados e vazios como se estivessem sendo calçados por um fantasma do qual só se era possível enxergar exatamente os pés calçados.

Curioso, eu perguntei para o engraxate o que faziam aqueles sapatos tão caros e chiques parados exatamente ali, daquele jeito.

O Engraxate me respondeu de uma forma curiosa:

-Ah, estes sapatos ai são de um louco, um fantasma com cara de italiano que chegou aqui, perguntou em portunholglês quanto custava o serviço, tirou os sapatos e ficou só de terno grava e com meias da cor “amarelo cheguei”.

Falando meio embolado, eu entendi que ele ia deixar os sapatos ali e ia dar uma voltinha – só de meia amarela – exclamou o engraxate rindo daquela cena onde ele viu o gringo atravessar toda a Avenida Paulista sem sapatos, sujando aquela meia clarinha no asfalto da cidade.

O engraxate disse que aquilo tinha acontecido por volta das 9 horas da manhã e ele já estava ficando preocupado com a demora do que ele chamava de “Fantasma” da meia amarela que saiu andando descalço sem os sapatos, pelas ruas afora.

Quando eu me preparava para pagar os serviços do engraxate, presenciei outra cena engraçada :

O tal fantasma das meias amarelas apareceu com um largo sorriso no rosto, cheio de sacola de compras e com o solado da meia todo preto.

Sentou na cadeira, calçou seus sapatos Prada vermelhos com aquela meia suja, encardida e tudo, pagou com um nota de 50 reais, sem pedir troco e saiu sorridente para um destino ignorado.

Crônica do MaLuCo

Sobre Mauro Condé [ MaLuCo:) ] 3583 Articles
Nascido em Belo Horizonte, Mauro Lúcio Condé carrega uma bagagem profissional de muito prestígio. De simples operário, Condé chegou à diretoria da General Eletric e também passou por grandes empresas como EDS e GEVISA, mas consagrou de vez sua carreira no Citibank, do qual foi Diretor Executivo de Qualidade e depois como executivo do Banco Itaú e Telefônica. As mais de quatro décadas de experiências levaram Mauro Condé a abrir sua própria empresa de consultoria e ministrar palestras no Brasil e no mundo.
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