“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente “
Fernando Pessoa
Para ilustrar este post escolhi a obra de arte – pintura – quadro “Retrato de Fernando Pessoa” do pintor português José Sobral de Almada Negreiros.
Um quadro no estilo neocubista que eu gosto muito – ele mostra Pessoa com algumas de suas marcas pessoais – seu chapéu, sua pena, sua gravata borboleta, seus óculos característicos e uma xícara de café.
O tom avermelhado do quadro me sugere a vibração que caracteriza a ebulição de um cérebro privilegiado.
Fernando Pessoa foi um escritor português considerado um dos maiores de todos os tempos, no mesmo nível do inglês Shakespeare e do espanhol Cervantes.
Eu aproveitei que estava em Lisboa e sai pelas ruas para fazer o tour que mais adoro na vida – um passeio inspirado pelos livros e pelos autores locais.
Escolhi conhecer melhor Lisboa ao lado de Fernando Pessoa e algumas de suas obras.
Sempre que podia, parava em alguns dos vários mirantes desta linda cidade e de lá ficava olhando admirado para o lindo mosaico formado pelo colorido das casas que se misturavam ao longe debaixo de um céu azul magnífico.
Cansei de conversar imaginariamente com as várias estátuas de Fernando Pessoa enquanto passava por elas em minhas longas caminhadas pela terrinha, como se vivo fosse o grande escritor
Foi em vários destes cenários que pude ler algumas de suas melhores obras e conhecer ou revisitar frases muito famosas, entre elas uma que me ocorreu quando olhava para o mar e pensava :
“Navegar é preciso, viver não é preciso”
Um dia saí para passear por Lisboa com o livro “Poemas” de Fernando Pessoa debaixo do braço e conheci a casa onde ele nasceu, que fica no largo de São Carlos no bairro do Chiado, bem em frente a ópera de Lisboa.
Fiquei encantado com uma estátua que vi e que acho que melhor me representa na vida – um homem em tamanho gigante, de pé, com um livro cobrindo toda a sua cabeça – eu me enxerguei nesta estátua, um corpo com cabeça de livro.
Às vezes eu tenho a sensação de que não sou uma pessoa, sou um livro no corpo de gente tentando construir uma história de vida, como as muitas que são contadas nos livros.
Fui até aquela que é considerada uma das mais antigas livrarias do mundo, que era frequentada por Fernando Pessoa e quando abri a porta tive um estranha sensação de passar pelo espírito do Fernando em Pessoa (rs).
Saí de lá com alguns exemplares de obras deste gênio das letras e parei numa pequena loja de souvenires onde comprei um chapéu parecido com aquele que usava o nosso poeta.
Queria ter a experiência imaginária de me sentir pensando o que ele pensava, usando o seu chapéu, em busca de mais inspiração para a vida.
Parei para tomar café na famosa Confeitaria Brasileira e fiz questão de me sentar numa mesa bem próxima à estátua do poeta, onde fiquei várias horas tomando um saboroso café e degustando alguns pastéis de Belém enquanto absorvia a inteligência e a Sabedoria do mestre.
Fiz questão de percorrer ruas, ladeiras e praças por onde andou, pensou e escreveu Fernando Pessoa.
Sai dali, passei pela estação de trens e fiz questão de fazer um passeio de bonde, o famoso eléctrico 28, amarelo por fora e forrado de madeira por dentro – era o transporte preferido de Fernando Pessoa.
Eu me lembro quando algumas lágrimas pularam das minhas córneas quando dentro do Café Restaurante Martinho da Arcada me emocionei ao ficar do lado da mesa que Fernando Pessoa sempre escolhia para fechar os seus dias, numa espécie de ritual – no dia em que lá estive a mesa estava arrumada do mesmo jeito que ficava quando o poeta por lá passava – um livro, uma xícara de café, a caneta que ele usava e folhas para anotação.
O cenário me lembrou a imagem da pintura acima, sem o poeta. Uma cena de pura emoção.
Um dia, ao sair para passear e ler mais Fernando Pessoa, tive vontade de imitar um dos seus mais deliciosos hábitos :
Mesmo sem ser fã de bebida alcoólica, em homenagem ao escritor, tomei :
Uma taça de vinho do Porto — harmonizada com uma fatia grossa de melão, algumas gotas de limão e fatias finas de presunto, como adorava o “gran poeta”, de acordo com o que li em suas memórias.
Eu recomendo que você experimente essa receita – ela pode te inspirar a escrever algumas linhas de poesia.
Enquanto passava por essa experiência eu ficava imaginando o poeta sentado ao meu lado declamando : “Dá-me mais vinho porque a vida é nada”.
Nunca deixe essa vida sem desfrutar da leitura de ” O Livro do Desassossego” , uma obra icônica de Pessoa assinada por um de seus heterônimos que ele batizou de Bernardo Soares.
Conheça Lisboa, leia Fernando Pessoa e descubra porque um dia o poeta escreveu :
“Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”
Para encerrar este post, escolhi como trilha sonora uma música inspirada no poema D.Tareja de Fernando Pessoa – na voz do incrível Milton Nascimento :
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