“Os brasileiros amam odiar os argentinos, enquanto os argentinos odeiam amar os brasileiros”
A frase inspiradora do dia do professor portenho Pablo Alabarces
Na década de 70 eu amava assistir filmes americanos bem produzidos e cheios de aventura, ação e efeitos especiais – eu estava no auge da minha adolescência.
Na década de 80 me apaixonei pelo cinema italiano e sua habilidade de contar belas histórias humanas encenadas em cenários deslumbrantes. Eu estava apaixonado pela vida.
Na década de 90 flertei com o cinema francês e seu excelente senso de humor. Eu adorava ir ao cinema para rir da vida, da minha própria vida.
Nos anos 2000, fui pela primeira vez a uma sala de cinema nos Estados Unidos, sonho que nutria desde a adolescência.
“Follow that car” ou “Siga Aquele Carro” foram as primeiras palavras que falei para o taxista dentro do carro que peguei para ir ao cinema.
Era meu sonho de consumo desde criança, entrar num táxi em Nova York e dizer aquela frase que eu sempre ouvia nas cenas de perseguição dos filmes que eu adorava – expliquei rindo para o motorista (rs).
Quis o destino que o primeiro filme que eu assistisse nos Estados Unidos (por pressa e por engano) fosse um filme brasileiro legendado para o inglês – num fino castigo que a vida me aplicou por ir aos cinemas brasileiros apenas para ver filmes americanos.
Nos anos 10 deste século, descobri o cinema argentino, maduro e reflexivo, espelhando minha chegada aos anos “enta”
E atualmente o cinema que mais me cativa ainda continua sendo o argentino.
Minha dica de cinema de hoje vai para:
“O Cidadão Ilustre”
Este filme é um excelente filme argentino que parece ter sido filmado para os brasileiros.
Ele conta a história do escritor Daniel Mantovani, ganhador do prêmio Nobel de Literatura, natural de uma cidadezinha do interior da Argentina, onde morou do nascimento até sua adolescência de onde saiu para ir morar em Barcelona e viver na Europa por quase 40 anos.
Por várias razões que você vai descobrir assistindo ao filme, a relação entre o escritor e sua cidade natal é cheia de ódio, amor, saudade e inveja.
Daniel é um intelectual, culto, de bom gosto e elegante, natural de um lugar onde as pessoas são medíocres, provincianas, bregas e relativamente pobres de espírito e imaginação.
Articulado com as palavras, ele tem um sentimento estranho em relação à Salas, local pelo qual ele tem um sentimento estranho de agradecimento pelo seu êxito como escritor famoso.
Ele reflete em seus personagens fictícios vários personagens reais da cidade e da sua memória, com todos os seus traços confusos, estranhos e interessantes.
Mais de três décadas depois de sua saída, Daniel se vê voltando para Salas, para atender a um convite de um amigo e e a um chamado de sua própria voz interior.
Lá ele é homenageado como cidadão honorário ou “cidadão ilustre” como dizem os hermanos.
Por causa da sua fama, ele tem recepção de gala, atrapalhada por um carro velho na chegada ao aeroporto, mas acaba desfilando meio à contra gosto em um carro de bombeiros, ganha um busto na praça principal e até preside um júri de um concurso de artes, que ele descobre ser de cartas marcadas.
E ele ainda é comparado pelo prefeito com outros argentinos ilustres como Maradona, O Papa, A Rainha Da Holanda e Leonel Messi.
Movido pelo seu senso crítico e seu espírito de falar e escrever o que pensa, ele acaba se envolvendo em situações tensas e difíceis.
O ódio e o amor de Daniel por Salas e vice-versa acaba se manifestando em vias de mãos duplas pelas ruas da cidade.
Vaidoso e meio arrogante, Daniel tenta impor aos seus conterrâneos sua pouca modéstia e seu ar de superioridade intelectual enquanto a cidade tenta se valer de sua fama internacional, para se tornar tão famosa quanto seu filho ilustre.
É um filme que mexe com quem está na platéia, chacoalha vários conceitos que recobrem a vida e os relacionamentos humanos através de uma narrativa envolvente e cativante.
Prepare-se para ver cenas de farsa, comédia, drama, inteligência, humor e psicologia humana tudo isto amarrado dentro de um excelente roteiro.
” O Cidadão Ilustre” tem um nota alta – 7,5 na opinião de quase 2400 pessoas que o assistiram e o avaliaram no melhor site de cinema do mundo – o IMDB.
Ele consegue nos dar a sensação da boa leitura de um livro através de uma história contada nas telas do cinema.
Obra simples, mas cheia de significados e que promete ficar gravado em sua mente por muito depois de visto.
Leia um resumo do trailer :
Abrem-se as cortinas
Logo na entrada da sala de cinema nos deparamos com um pôster do filme exibindo o rosto do escritor argentino premiado com o prêmio Nobel, com um ar esnobe de intelectual com um óculos de aro composto de hastes brancas na metade superior e transparente na parte inferior sustentando um par de lentes retangulares.
O escritor parece um arrogante desdenhando de algo ou de alguém pelo sorriso atravessado e enigmático que exibe no cartaz, que estampa seu rosto coberto por sua barba grisalha pelo tempo.
Ao fundo, seu habitat natural – uma biblioteca repleta de livros e na sua testa dois círculos alaranjados graduados em escalas insinuam que ele seja um alvo por fora e por dentro.
…Apagam-se as luzes, começa o trailer,
O escritor aparece elegantemente bem vestido sendo conduzido por uma linda jovem para o palco onde fará o discurso para receber o prêmio máximo da literatura, o prêmio Nobel.
Durante sua fala, ele diz ter a convicção que este tipo de reconhecimento unânime está relacionado direta e inequivocamente com o declínio do artista.
Ele fala sob a mira do olhar de uma platéia nobre e atenta.
No próximo corte, ele aparece entrando em casa e dialogando com uma mulher de roupa vermelha já no lado de dentro da casa, onde eles falam sobre um convite que ele recebeu da Argentina, mais precisamente da província de Salas.
A mulher lê o convite em voz alta e o surpreende dizendo que a cidade deseja que ele diga algumas de suas sábias palavras em homenagem ao aniversário da mesma.
Ele arregala os olhos, franze a testa e de pé relê pessoalmente o convite com um olhar melancólico e nostálgico.
Curiosa, a mulher pergunta se faz tempo que ele não vai lá e ele responde – que faz quase 40 anos e que saiu de lá quando tinha 20 e não voltou mais falando com a voz embargada.
Reflexivo ele diz que parece que a coisa que mais fez na vida fugir de lá, da cidade, dos seus moradores e tudo o que eles representam.
Ele aparece caminhando de um lado para o outro de um corredor ladeado por janelas amplas com vista para um lindo jardim muito bem cuidado no andar de cima de uma linda e ampla biblioteca.
Corre o trailer e um avião aparece cruzando os céus.
A cena volta para a premiação de entrega do Nobel de Literatura.
Na continuação desta história de um grande escritor que volta à sua simples cidade natal, ele aparece desfilando em cima de um carro de bombeiros, como convém à celebridade mais ilustre do lugar, inaugurando um busto em sua homenagem na praça principal e ouvindo um discurso emocionado do prefeito da cidade ao lado da miss local.
Ele aparece tirando uma ampla foto com grande parte dos moradores do local, a maioria pessoas idosas.
O filme é uma jornada ao coração de sua literatura.
Daniel aparece abraçando um velho amigo de infância já grisalho e depois caminhando pensativo e sozinho pelas ruas da cidade, sendo filmado e fotografado por cada morador que encontra no caminho
Ele reaparece revendo velhos amigos e abraçando um mulher linda de longos cabelos pretos, a Irene, depois aparecem dentro de uma velha camionete vermelha.
Seu amigo de infância o recebe em sua casa com um avental de cozinheiro e uma suculenta bandeja de carne – cabeças de cordeiro.
Ele aparece sorrindo vendo seu amigo dançar ao som do velho rock que ouviam.
Um texto interrompe as imagens para dizer que ninguém pode ser profeta em sua própria terra.
E ele reaparece em cenas diferentes ao lado outros velhos amigos, ora sorrindo, bebendo, discutindo, entendiado, com raiva, discutindo com admiradores e adversários ouvindo elogios e críticas ao mesmo tempo, dando abraços ou levando empurrões.
Ele aparece beijando a amiga de cabelo preto, brigando na entrega de um prêmio de arte de cartas marcadas.
Ele abre a porta e observa seu velho amigo entrar por ela com o nariz machucado, com o sangue vermelho escorrendo por cima do bigode branco.
E no final ele aparece parado numa rua escura ao lado de uma mala, quando ao seu lado para uma grande camionete ocupada por um motorista e um passageiro com uma máscara no rosto, o convidando para embarcar com eles. Mais na frente, o mascarado aparece numa rua escura apontando um rifle e gritando : “Corre, Caramba !”
Fim do trailer… quando ele por fim reaparece sorrindo para a plateia.
EU DESEJO QUE VOCÊ FAÇA UM ÓTIMO FIM DE SEMANA – NOS VEMOS SEGUNDA !
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