Estava eu em frente ao caixa, perguntando sobre o preço do livro que eu segurava nas mãos e queria comprar, mas antes que a balconista respondesse, um senhor que estava sentado num banquinho ao lado do balcão, me fez uma pergunta:
– E aí?! Você gosta de ler?
Depois de ouvir a minha afirmativa, ele quis quantificar um pouco mais a sua pergunta:
– E você, lê muitos livros?
A minha resposta fez com que o senhor e a moça do caixa se entreolhassem com um olhar de desconfiança recíproco.
– Puxa vida! Média de 200 livros por ano?! Isso é muito mesmo. Para ser sincero, parece até mentira.
– Eu sei, eu já passei por esta situação várias vezes, quase ninguém acredita que eu consiga ler em média 200 livros por ano, ou seja, quase um livro por dia.
Eu fiz este comentário, abaixei a minha cabeça para tirar o dinheiro da carteira e quando voltei a olhar para frente, percebi que lá só estava a balconista e que o misterioso senhor que estava do lado dela tinha estranhamente desaparecido.
Achando aquilo estranho, estiquei o braço para efetuar o pagamento, quando senti uma mão bater no meu ombro: era o senhor que tinha reaparecido em fração de segundos.
Na verdade, ele tinha ido até o meio daquela pequena livraria apanhar um livro sobre jazz, com uma capa azul, destacando a imagem de um saxofone dourado em cima de uma mesa de madeira.
Apontando para a capa, ele me fez uma outra pergunta:
– Por acaso, você já ouviu falar neste livro?
– Claro! – Exclamei. – Inclusive eu comprei um exemplar dele aqui nesta livraria, alguns anos atrás.
Neste momento, nós ouvimos um barulho… Era a moça do caixa que tinha escorregado do seu banquinho e quase caído, não fosse o seu gesto de se apoiar com as mãos abertas na ponta do balcão. Acho que ela acabou se assustando ao saber que eu tinha lido aquele livro – afinal tratava-se de um raro exemplar de um livro com poucas cópias que só era vendido naquela pequena livraria em todo o mundo.
Então foi a vez dela me fazer uma pergunta e um comentário:
– Sério, você já leu mesmo este livro? Agora sim, eu acredito que você leia uma média de 200 livros por ano.
– Sim, eu li mesmo e até fiz um breve resumo do seu conteúdo. Para o espanto dos dois, terminei meu resumo dizendo que se eu pudesse encontrar pessoalmente o seu autor (para mim, um mero desconhecido até então) eu faria questão de cumprimentá-lo pela sua bela obra e pela sua brilhante imaginação e capacidade de prender a atenção.
De repente, eu olhei para o lado e vi que algumas lágrimas pulavam das córneas daquele senhor, enquanto ele esticava o seu braço para me dizer:
– Prazer, sou eu o autor deste livro.
– UAU! – Exclamou a moça. – Inacreditável! – Este encontro parece outra mentira!
Quando percebemos já tínhamos formado uma pequena roda de bate-papo, apenas nós três ali, no meio daquela livraria simpática e vazia no momento.
– E você, acredita em horóscopo? Perguntou o senhor.
Olha, para ser honesto eu sou curioso sobre o tema, mas de longe, eu não sou um seguidor vigoroso destas previsões.
– E você, é de que signo?
– Gêmeos. – Respondi.
– E em que dia e que mês você nasceu? Perguntou o autor do livro.
-Isto é incrível. – Afirmou ele, tirando a sua carteira de identidade do bolso. Ele e eu tínhamos nascido no mesmo dia, mesmo mês e depois de ver o documento dele, também descobri que nós dois nascemos no mesmo ano. Para fechar com chave de ouro as nossas coincidências, nascemos na mesma cidade e no mesmo hospital.
– UAU! – Exclamou de novo a moça do caixa, perguntando se alguém ali teria uma teoria a respeito daquele encontro tão cheio de coincidências.
Então o senhor se voltou para nós e respondeu:
– Eu tenho uma teoria sim: Gambá atrai Gambá. Pessoas com muitos pontos em comum sempre acabam se esbarrando pelo mundo, isto é um efeito brilhante da natureza. Gambá, atrai Gambá!
crônica escrita por Mauro Condé numa manhã de janeiro de 2016
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