“LIBERTE SUA MENTE DA INFLUÊNCIA ALHEIA.”
A frase inspiradora do dia – Ela veio do que Goethe aprendeu com Espinosa
Para ilustrar este post, escolhi a obra de arte, o quadro, a pintura, óleo sobre tela :
“Jacó abençoando os filhos de José “do genial pintor holandês Rembrandt.
Eu escolhi este quadro, em homenagem a uma citação feita no Capítulo Um do livro que indico neste post – cujo trecho reproduzo agora :
“Amsterdã, abril de 1656 :
Amsterdã se move devagar; a cidade está de luto, ainda se recuperando da peste que, poucos meses atrás, matou um em cada nove de seus habitantes.
A alguns metros do canal, na Breestraat no.4, o falido e ligeiramente embriagado Rembrandt van Rijn dá uma última pincelada no quadro “Jacó abençoando os filhos de José”, assina o seu nome no canto inferior direito da tela, atira a paleta no chão e se vira para descer a escadinha sinuosa.
A casa, que três séculos depois viria a se tornar museu e memorial, é, na época, testemunha da sua vergonha.
Vive repleta de possíveis compradores que andam na expectativa do leilão de todos os bens do artista genial e endividado.
Ríspido, o pintor abre caminho por entre os curiosos ao pé da escada, sai pela porta da frente, inala aquele ar salgado e, com passos trôpegos, ruma para a taberna da esquina.
Enquanto isso, na mesma Breestaat no 57, a apenas dois quarteirões do local onde acontecem os preparativos para o leilão na casa de Rembrandt, um jovem comerciante de 23 anos, chamado Bento Espinosa…”
Pelo trecho acima, você conclui que o quadro contextualiza o texto deste post.
Oi – Que livros você anda lendo?
Como aprender sobre os fundamentos da terapia lendo uma história sobre a filosofia :
Quer uma dica de um livro que li recentemente e recomendo fortemente caso você goste e se interesse por histórias que costurem com maestria e ao mesmo tempo cultura, artes, história, geografia, filosofia e psicologia.
Eu falo do livro “O Enigma de Espinosa” escrito pelo Dr. Irvin Yalom, um dos meus autores preferidos da atualidade.
O autor é um gênio que escreveu um livro sobre outro gênio (Espinosa, um filósofo que inspirou a criação da psicologia) e coincidentemente a pessoa que me deu este livro de presente é também um gênio, precoce, muito culto e inteligente.
O livro é muito envolvente, é esclarecedor, provoca nossa inteligência e além de tudo é muito gratificante.
Em O Enigma de Espinosa, o autor relata uma história inesquecível. Por ser ele, um psiquiatra famoso e renomado e uma pessoa muito erudita ele conseguiu criar uma obra inesquecível.
A história alterna relatos da vida de dois personagens históricos – um dos maiores pensadores e filósofos de todos os tempos, que viveu no século XVII, Baruch Espinosa e o ideólogo nazista Alfred Rosenberg, que era um dos mentores de Hitler durante a segunda Guerra Mundial.
Quando um jovem de apenas 16 anos, chamado Alfred Rosenberg, é castigado pelo diretor e um de seus professores no Liceu por causa de seus comentários e discursos antissemitas, ele é obrigado a estudar passagens sobre Espinosa.
Rosenberg fica maravilhado ao descobrir que Goethe e Einstein, dois gênios que ele admirava eram fãs e grande admiradores do filósofo holandês filho de pais portugueses, Bento(ou Baruch) Espinosa, um super judeu.
Com o passar dos anos, o destino apresenta Rosenberg a Hitler do qual se torna amigo, fiel escudeiro e um dos principais ideólogos nazistas, destacado pelo mesmo para comandar um grande jornal alemão da época e para ser um dos principais responsáveis pela política racista do Terceiro Reich.
O que acontece é que sua obsessão por Espinosa, desde a adolescência o afeta fortemente durante a sua maturidade, sempre intrigado pelo fato de que o grande gênio alemão que ele admirava, Goethe, ter revelado que Espinosa foi seu mentor e inspirador intelectual.
Como poderia Goehte ter se inspirado em alguém oriundo de ““uma raça inferior””?, se perguntava o tempo todo Alfred.
Como podia alguém tão superior e tão inteligente ser um representante da raça que ele atacava e pretendia destruir?
Por causa deste questionamento, Alfred passou a nutrir um interesse misterioso e intrigante pelos livros daquele pensador judeu que ele odiava por causa da raça, mas admirava por causa da super inteligência.
O autor, Dr. Irvin Yalon conta esta história intercalando e ligando passagens da vida de Espinosa e de Alfred Rosenberg, num intervalo de tempo de trezentos anos.
Usando seus sábios conhecimentos sobre psicologia e terapia para analisar a mente destes dois sujeitos:
Um gênio desajeitado e com dificuldades para se adaptar a uma sociedade onde as pessoas obedeciam regras, sem estudar e sem pensar por conta própria e principalmente sem questionar os medos, as superstições e os dogmas que principalmente os religiosos tentavam impor às pessoas naquela época.
Um sujeito inteligente, mas perturbado mentalmente que se transformou num assassino de massas e que estranha e curiosamente agiu para salvar todos os livros da obra de Espinosa daquela famosa queima de livros feita pelos nazistas, sob a alegação de que eles serviriam para o estudo do tão falado “Problema de Espinosa”.
No livro, Yalom entrelaça estas duas vidas e suas histórias, num misto de ficção com realidade de uma forma muito empolgante e inteligente.
É no fundo um romance muito bem contado que explora o interior da mente humana, as origens do bem e do mal e filosofia da liberdade e dos afetos.
Eu recomendo que você tire um tempo para ler este livro em seus momentos de relaxamento e descanso, como forma de espantar o tédio e a rotina do seu dia a dia e como forma de jogar para dentro de sua mente mais algumas pás de inteligência pura.
Para ilustrar a força e a excelência do conteúdo deste livro, separei trechos do mesmo que gostei muito para que você pudesse ter o gosto de uma pequena amostra – veja abaixo os trechos que destaquei do livro :
“
… Liberte a sua mente da influência alheia … O que o gênio alemão Goethe aprendeu com o filósofo luso-holandês Espinosa
… Por que tentamos nos culpar por coisas que acontecem por motivos externos à nós mesmos? Lembra que o nosso pai se culpava pela morte do nosso irmão? Quanto vezes não o ouvimos repetir que, se não tivesse mandado Isaac fazer aquelas entregas de café em outros bairros, ele não teria pegado a peste?
Sentir culpa é apenas uma forma inútil de nos enganarmos, achando que somos poderosos o suficiente para controlar a natureza …
… Em caso de impasse, esqueça o conteúdo e dê atenção à resistência… Vai ver que vai aprender muito mais sobre o seu paciente …
…. A razão não é páreo para a paixão …
… Sua neura para obter aprovação de Hitler é produto da sua mente – ao invés de modificar o comportamento de Hitler ruim em relação à você, aprenda a modificar a sua mente e terá resolvido o seu problema …
… Doutor, você me convenceu que, no meu caso, essa dominação de Hitler sobre mim é excessiva e quero que me ajude a modificar isso. Será que nos escritos de Espinosa tem alguma proposta que nos auxilie neste sentido?
-Vamos dar uma olhada no que Espinosa diz sobre se libertar e libertar a sua mente da influência alheia – replicou o médico psiquiatra, examinando suas anotações.
-Libertar a sua mente da influência alheia foi uma das coisas que Goethe aprendeu brilhantemente com Espinosa.
-Há uma passagem importante aqui, na parte IV, a seção intitulada : “Da servidão humana” “Quando o homem é presa de suas emoções, não é senhor de si mesmo, fica à mercê da fortuna. Isto descreve exatamente o que está acontecendo com você, Alfred.
-Você tem sido presa de suas emoções, sendo levado pelas ondas da ansiedade, do medo, da autodepreciação. Faz sentido? Alfred aquiesceu.
-Espinosa prossegue dizendo que, se a sua autoestima se basear na dependência do amor e da aprovação da multidão, você viverá sempre ansioso porque esse amor e necessidade de aprovação é transitório. Ele refere-se a isto como “autoestima vazia”
-Então o que ele opõe a que? O que seria uma autoestima plena defendida tanto por Goethe quanto Espinosa ?
… O que estou querendo te dizer é que a terapia consiste em mudança e estou tentando a ajudá-lo a descobrir o que deseja mudar em si mesmo.
Quando você me diz que todos os seus problemas são causados por culpa dos outros, que todos os seus problemas se devem à terceiros, o único recurso terapêutico que me resta é tranquilizá-lo e ajudá-lo a a aprender como aguentar essas ofensas e agressões, ou então sugerir que você procure outro círculo de relações e amizades.
-Veja, disse o médico, resolvendo adotar uma outra tática que geralmente dava resultado :
-Vamos pensar assim : que percentual dos problemas que você tem enfrentado é causado por outras pessoas : 20%, 50%, 70% ou 90%
-É impossível calcular assim, doutor,…
-É claro que não estou querendo exatidão, quero simplesmente que você arrisque uma estimativa. Vamos lá, faça o que estou pedindo Alfred.
-Está certo, digamos 90%
-Ótimo, o que significa que 10% desses problemas desagradáveis que tanto o aborrecem são responsabilidade sua.
Isso pode ser um caminho à seguir. Nós precisamos explorar esses 10% e ver se conseguimos compreender o que acontece e, então, mudar isso.
Está me entendo, Alfred?
-Estou começando a ter aquela estranha sensação de vertigem que tenho sempre que converso com você.
-Isso não é necessariamente ruim.
Em geral, o processo de mudança provoca uma desestabilização. Mas vamos voltar ao trabalho.
Vamos examinar aqueles 10%. Quero saber que papel você desempenha nessa história de as pessoas o tratarem tão mal.
-Já respondi a esta pergunta.
Eu lhe disse que é a inveja dos homens comuns diante de alguém com uma imaginação e um intelecto superiores.
-O fato de as pessoas o maltratarem em função de sua superioridade, se inclui na categoria dos 90%.
Vamos nos concentrar nos outros 10%; a sua parte nisso tudo.
Você disse que é excluído, malvisto, vítima de boatos e fofocas.
O que você faz para provocar este comportamento nas outras pessoas? …
Para encerrar este post, escolhi uma música que lembra o paralelismo corpo/alma inspirado na obra de Baruch Espinosa :
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