“Quando a morte passa do seu lado e te conta uma história, você tem que parar para ouvi-la”
Frase inspiradora do dia – Tirada do livro e do filme indicado neste post – dita pela pequena personagem quando vê a morte buscando pessoas próximas a ela.
Minha dica de cinema de hoje é sobre um filme que aborda temas que nos marcam do início ao fim da nossa vida.
Nos últimos anos, tenho reservado tempo para ficar sozinho comigo mesmo pensando na vida, e entre os mais variados assuntos.
Eu penso na razão de existirmos, no sentido que a nossa passagem por aqui para responder ao questionamento de quem somos nós, como um exercício para aumentar meu autoconhecimento e o conhecimento do mundo em que vivemos.
Estudo de forma auto-didata e também profissional e leio de tudo – livros e textos técnicos, clássicos da literatura, das artes, da cultura, estudo filosofia e psicologia principalmente.
Por causa deste tempo dedicado ao pensar e ao estudar descobri que :
No mundo moderno em que vivemos quatro são os tópicos mais importantes para a moderna terapia humana :
1-O MEDO DA MORTE
1)O medo da morte que cada um de nós carrega ao longo da nossa jornada – medo da nossa morte e ou o da morte das pessoas que conhecemos e principalmente que gostamos.
Na verdade descobri que o ser humano nem tem medo da morte, na verdade ele tem é pavor da morte, o medo é quando não se sabe o que vai acontecer, já o pavor é quando se sabe o que vai acontecer e não se pode fazer nada para impedir.
Por esta razão é que eu digo que o ser humano tem mais pavor e pânico do que medo da morte.
Também aprendi que a postura mais inteligente diante desta situação é transformar nosso medo da morte no maior impulso para aumentar a nossa coragem de viver.
Se o nascimento e a morte são certos, é preciso que aproveitemos o intervalo entre eles da forma mais intensa possível.
2-O MEDO E A DIFICULDADE EM LIDAR COM AS ESCOLHAS QUE FAZEMOS NA VIDA
2)O medo e a dificuldade para lidar com as escolhas que fazemos ao longo da vida, o medo de não saber usar a liberdade que temos para viver como desejamos.
Aqui aprendi que ao invés de ter medo de fazer escolhas, não arriscar e errar, precisamos ser mestres em aprender e usar as lições que eles nos ensinam – são os erros, os fracassos e os insucessos da vida nossos maiores professores para os próximos acertos e sucessos.
3-O MEDO DA SOLIDÃO E DO ISOLAMENTO
3)O medo da solidão que mesmo antes do fim da vida aterroriza as pessoas que constatam que nós nascemos sós, nós morremos sós, mas só conseguimos viver em sociedade e em grupo e portanto temos medo de viver sós e isolados.
Eu aprendi a trocar o medo da solidão pela gesto da solidariedade, pela prática do uso da nossa própria vida como forma de ajudar as outras pessoas a melhorarem a vida delas.
4-O MEDO DE NÃO SABER O REAL SENTIDO E SIGNIFICADO DA VIDA
4)O medo de não ter ou não saber qual é o verdadeiro sentido e significado da vida que vivemos, de não saber exatamente quem somos nós e por que existimos.
De tanto estudar, refletir e pensar sobre os temas acima, colocando a minha própria existência como cobaia dos meus estudos e pensamentos
Eu cheguei à conclusão que entre os grandes sentidos da vida estão:
-Em primeiro lugar nós existimos para participar da evolução do mundo, cada um de nós tem a missão deixá-lo um pouquinho melhor do que era quando nele chegamos e o que mais ajuda nesta missão são :
-o fato de sermos biologicamente programados para a reprodução, portanto a reprodução seria um dos nossos objetivos neste mundo como forma de perpetuação da nossa espécie através do que transmitimos biologicamente para nossos filhos, que são versões muito melhoradas de nós mesmos contendo a soma de todas as nossas virtudes.
-o fato de estarmos aqui neste mundo para viver uma história – uma história cheia de altos e baixos, cheia de perdas e ganhos e cheia de problemas e dificuldades e alguns poucos momentos de felicidade, o que torna a vida maravilhosa, desafiadora e empolgante.
-e o fato de que para vivermos precisamos todos passar por um processo que eu batizei de transferência de conhecimento:
-nascemos sem saber, sem conhecer nada e à medida que crescemos, saímos por ai catando aprendizado e coletando informações das pessoas mais velhas e experientes que nos transferem conhecimento, que nos ensinam aquilo que não sabemos e que vamos depois usar para o resto da vida.
Eu subdivido este processo de Transferência que é a base do sentido e significado da nossa vida em dois:
-Aprendizado – quando buscamos nos outros mais velhos e experientes (pai, mãe, irmãos, professores, parentes e amigos) conhecimentos que ainda não temos e que incorporaremos ao nosso modo de ser e de viver.
No meu caso particular, desde criança o meu modo preferido de praticar a transferência de conhecimento para absorver o que não sei é através da leitura, através dos LIVROS.
-Legado – quando, já velhos e experientes passamos a ser os transmissores dos conhecimentos que acumulamos para outros seres – como filhos, netos, parentes, alunos e amigos. Podemos deixar nosso legado de várias formas – uma obra para a posteridade, a criação de algo totalmente novo e útil para a humanidade, uma palavra, um gesto ou uma frase que muda o comportamento e a vida das pessoas para melhor.
Fiz esta breve introdução para apresentar a indicação cultural de hoje.
Minha dica de cinema de hoje é ao mesmo tempo uma dica de literatura – você pode escolher entre ler o livro e ou assistir ao filme.
Eu fiz os dois e achei a história bem interessante e me impressionei como o diretor do filme conseguiu reproduzir no filme o clima e a qualidade que o autor do livro imaginou.
Eu falo do filme e do livro “ A Menina Que Roubava Livros”.
Ligando a indicação do filme ao contexto que falei sobre o medo que todo ser humano tem da morte, das escolhas que faz na vida, da solidão e da falta de sentindo e significado para a vida.
Neste filme, você vai ver uma menina bem pequena (por volta dos 10 anos) no início de seu processo de transferência e aprendizado na vida, impedida de ter contato com sua fonte original de transferência – a sua família original (principalmente a sua mãe) por conta dos horrores dos nazistas e por isto sendo adotada e obrigada a viver com uma outra família que a livrasse dos riscos da guerra e das atrocidades da época.
E no começo de tomada de consciência sobre si mesma, sobre sua existência ela é confrontada com a morte de uma forma muito marcante – passando a partir deste momento a viver assombrada pelo pavor, pelo pânico da morte em quase todos os momentos da sua vida.
Ela ainda pequena, já se confronta com a morte quando participa de um enterro e começa a praticar seu primeiro delito que vai marcar sua vida até o fim :
Ela rouba um livro que cai do bolso do coveiro que fazia o enterro que ela presenciava.
A partir deste pequeno e ingênuo roubo, ela começa seu processo de transferência, através do aprendizado pelos livros, sem os quais ela descobre não poder viver.
E é nos livros que ela vai tentar ao longo da vida, trabalhar seus medos da morte, das escolhas que faz na vida, medo da solidão e medo de não saber o sentido e o significado da sua vida.
Neste filme, quem conta a história é o anjo da Morte que, encarregado de buscar um menino num trem em plena Alemanha dos anos 30, se sente maravilhado pela irmã do mesmo, a quem por essa razão ele poupa.
A menina então passa a ser a grande protagonista da história.
O filme tem belas imagens, linda fotografia que combina de forma magistral cores neutras com cores fortes e berrantes que realçam os símbolos nazistas.
Abrem-se as cortinas – começa o trailer :
O Trem passa soltando fumaça pela floresta.
Dentro dele uma menina com mais ou menos 10 anos loira, cabelos cacheados se apresenta.
Seu nome é Liesel. Ele resmunga que não tem família nem mesmo um lar.
A fita avança e ela aparece no banco de trás de um carro que entra num pequeno vilarejo.
Ela se declara uma menina sem esperança e com um semblante triste olha para o lado de fora do carro pela janela.
Ela demonstra ansiedade para conhecer as pessoas com quem está prestes a se encontrar, achando que elas podem mudar a situação.
Uma mulher com roupa de frio, chapéu e sobretudo lhe abre a porta do carro, estende as mãos e a convida para conhecer seus pais adotivos. A mulher é sua nova mãe e o senhor que vem logo atrás o seu novo pai.
A mulher tem o semblante sério e fechado e já o pai lhe abre um grande sorriso e a chama de Vossa Majestade, numa recepção bastante calorosa.
Ela aparece dentro da casa, já sentada em cima da cama vestida com seu pijama. A mãe chega trazendo as cobertas e já começa dando ordens, a começar pela instrução de que ela deve ser chamada de mãe e o “velho pegajoso” de pai.
Já deitada e coberta, ela recebe a visita do pai para lhe desejar boa noite e ele pega o livro da menina e pergunta se é mesmo o primeiro livro de sua vida.
Questiona se ela tem certeza de que o livro é dela, desconfiado pelo estado de conservação do mesmo.
Ela responde que nem sempre foi dela e ele devolve o olhar com expressão de curiosidade.
A fita avança e a menina aparece na escola sendo hostilizada pelos colegas de classe ao descobrirem que ela não sabe ler, até que no centro de uma roda em plena neve, ela dá um tapa no rosto de um menino que a desafia a ler uma palavra, o garoto cai no chão e os outros meninos soltam gritos de exclamação incentivando a continuação da briga.
A professora chega, abre caminho por entre os meninos e os separa.
A menina aparece já dentro de casa, junto com seu pai, os dois no porão onde ele a apresenta uma linda novidade – as paredes pintadas com todas as letras do alfabeto para que ele possa ensiná-la a ler dali mesmo.
Aparecem imagens do local totalmente coberto por neve e um estranho caminhando com dificuldade pelas ruas geladas, quando seu pai lhe confidencia que tem um segredo para contar.
Poucos minutos depois, eles escutam batidas na porta, a mãe atende e descobre que é Max, filho de um amigo judeu que chega fraco e cambaleante precisando de ajuda.
O pai diz que Max é o segredo e que ela precisa se comprometer a não revelá-lo para as pessoas da rua, sob pena dele ser preso pelos nazistas.
Ela aparece na rua horrorizada com os gestos dos soldados e dos garotos fanáticos numa saudação à Hitler.
Depois dentro de casa, conversa com Max, que ainda se recuperando aparece deitado e coberto abraçado à um livro que chama a atenção da garota.
Os dias passam, ela aparece olhando para a rua pela janela e grita por sua mãe alertando que os soldados estão checando os porões de todas as casas num sinal de que Max corre riscos.
O pai esconde Max bem baixo de um local coberto por uma bandeira nazista para despistar os soldados.
A menina aparece maravilhada dentro da biblioteca do prefeito acariciando os livros com os olhos arregalados de alegria e não contém seu impulso de roubar alguns exemplares sem ser notada.
As palavras vão inspirá-la. As palavras vão ensiná-la a driblar os problemas da vida de forma inteligente.
Ela volta a aparecer no porão lendo para Max ambos iluminados por uma pequena vela.
Enquanto lê um livro, ele pergunta para ela o que seus olhos diriam se eles falassem, tentando saber o conteúdo daquela leitura que parecia tão interessante.
Ela suspira.
Mais na frente aparece correndo por uma pequena ponte com uma cesta nas mãos ansiosa pelo seu encontro com os livros.
Um dos poucos amigos da escola, um loiro apaixonado por corridas olímpicas, a interroga desconfiado que na casa dela eles estão escondendo alguém da polícia.
Enquanto isto, a mãe aparece numa mesa ao lado do pai perguntando se podem confiar numa garota tão jovem. – Ela é nossa filha, responde o pai.
O cerco policial aumenta e ela aparece dentro do porão abraçada fraternalmente à Max, parecendo querer segurá-lo para sempre – que faz questão de lembrá-la de que ela o manteve vivo e o alegrou com suas palavras durante os dias de convivência.
Livros são queimados pelos nazistas, ela passa aterrorizada com a cena, sem ser vista, se agacha e salva um livro das chamas, escondendo-o ainda quente dentro de seu casaco.
Dias depois ela aparece caminhando por um pequeno lago com seu amigo que pergunta se ela rouba livros.
Ela responde que às vezes, quando a vida te rouba algo, você precisa roubar de volta.
No final do trailer ela aparece caída com o rosto todo sujo entre os escombros da guerra ao lado de vários corpos atingidos pelos bombardeios, enquanto uma mensagem aparece antes dos créditos :
“As palavras são vida Lisa e todas as páginas são para você preencher”
Fim do trailer.
Elogiado pela crítica internacional, este filme merece ser visto e o livro ser lido.
Num fato raro de um filme que consegue manter a alta qualidade da história escrita, o filme mostra como um bom livro será sempre uma excelente companhia, às vezes a única em momentos difíceis.
Alie-se a isto o fato do filme ter uma linda fotografia, uma trilha sonora excelente do mesmo compositor de “A Lista de Schindler”
Este filme é uma verdadeira homenagem ao hábito da leitura, um elogio à amizade entre os seres humanos e é emocionante e muito cativante.
Se também não é o melhor filme ou melhor livro que eu já vi até hoje, com certeza ambos são dois dos mais emocionantes que eu já vi e já li.
A menina Que Roubava Livros tem nota 7,6 na opinião de 106.000 pessoas que o assistiram e o avaliaram no maior site de cinema do mundo – o IMDB.
Veja o trailer(ative a legenda se precisar), tente procurar e ver o filme como forma de relaxar no fim de semana e aumentar seu autoconhecimento na vida :
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