Novidades

/Oi ! Você aí ! / ✝✝✝ Você tem medo da morte ? Então leia este texto que vai te matar, mas de tanto rir sem parar – Leia “A Morte Bate À Porta” texto do genial Woody Allen em seu excelente livro Cuca Fundida(nota 10 na minha opinião) traduzido pelo também genial escritor brasileiro Ruy Castro – Acabei de ler este livro e fiquei em dúvida se o Woody Allen é melhor fazendo cinema ou escrevendo – Dica para o seu relaxamento no fim de semana :✝✝✝ MaLuCo:)


logomarca blog maluco
  • Twitter
  • LinkedIn
  • Google+



Acabo de ler este excelente livro que me deixou com um gosto de felicidade por ter achado um livro inteligente, sensível e muito bem humorado reunindo as crônicas e os contos escritos por este diretor de cinema incrível – Gostei de todos, mas um em especial eu achei disponível na internet e resolvi compartilhar com você :


A morte bate à porta (de Woody Allen)

A morte bate à porta, de Woody Allen (peça em um ato)

A ação da peça se passa no quarto de Nat Ackerman, na sua mansão em Kew Gardens. O quarto é atapetado. Há uma cama de casal e uma enorme penteadeira. A mobília e as cortinas são luxuosas. Nas paredes, diversos quadros e um barômetro de não muito bom gosto. Música suave enquanto a cortina sobe. Nat Ackerman (51 anos, calvo, ligeiramente gordo, proprietário de uma confecção) está deitado na cama, acabando de ler o jornal do dia seguinte. Está de roupão e chinelos, e lê à luz de um pequeno abajur preso no espaldar da cama. Ê quase meia-noite. De repente, ouve-se um barulho estranho e Nat se levanta e vai até a janela.

Nat: Que diabo está havendo aí?

Subindo desajeitadamente pela janela, aparece uma sombria figura embuçada. O intruso usa um capuz negro e uma roupa justa, também negra. O capuz cobre sua cabeça, mas não seu rosto, o qual aparenta meia-idade e ê branco como gesso. Parece-se um pouco com Nat. Arfa audivelmente, passa uma perna pelo parapeito e desaba dentro do quarto.

Morte (claro, quem mais podia ser?): Deus do céu, quase quebrei o pescoço!

Nat (de olhos arregalados): Quem é você?

Morte: A Morte.

Nat: Quem?

Morte: A Morte, pô! Escute – posso me sentar? Quase fui para o beleléu. Olhe só como estou tremendo.

Nat: QUEM É VOCÊ?

Morte: A Morte, que diabo! Pode me arranjar um copo d’água?

Nat: Morte? O que você quer dizer com Morte?

Morte: Está cego, rapaz? Não está vendo o capuz preto e a cara branca?

Nat: Estou.

Morte: E hoje é Dia das Bruxas?

Nat: Não.

Morte: Então eu só posso ser a Morte. Posso tomar um copo d’água? Mineral com gás, de preferência.

Nat: Escute, se isto for alguma piada…

Morte: Que piada? Olhe aqui, você não é Nat Ackerman, 57 anos, morador na Pacific Street, 118? Só se eu tiver trocado os endereços. Agüenta aí. (Cata nos bolsos um cartão, lê-o em voz alta. Confere. )

Nat: O que você quer comigo?

Morte: O que eu quero? Que pergunta mais idiota!

Nat: Deve haver um engano. Estou em perfeita saúde.

Morte: Sei, sei. (Olhando em volta.) Bonito lugar, este aqui. Vocês mesmos o decoraram?

Nat: Contratamos uma decoradora, mas nós também ajudamos.

Morte (contemplando um quadro na parede): Adoro crianças de olhos esbugalhados.

Nat: Olhe, ainda não quero morrer.

Morte: Você não quer morrer? Por favor, não comece com isso. Ainda estou zonzo com a subida.

Nat: Qual subida?

Morte: Subi pela calha. Estava tentando fazer uma entrada sensacional. Vi as janelas abertas, você lendo o jornal e achei que valia a pena tentar. Era só subir pela calha e entrar com um certo – você sabe… (Estala os dedos.) Só que, bem no meio do caminho, prendi o pé numa trepadeira, a calha quebrou, fiquei pendurado por um fio e minha capa começou a rasgar. Agora chega de conversa. Vamos embora. Esta noite está terrível.

Nat: Você quebrou minha calha?

Morte: Não, não quebrei. Só a entortei um pouco. Você não ouviu quando eu despenquei lá de cima?

Nat: Estava lendo.

Morte: Devia ser uma leitura muito absorvente. (Pega o jornal que Nat estava lendo.) PIRANHAS FLAGRADAS PUXANDO FUMO. Posso levar isso?

Nat: Ainda não terminei.

Morte: Olhe… Hmmm… Não sei exatamente como lhe dizer, xará…

Nat: Por que não tocou a campainha lá embaixo?

Morte: Podia ter feito isto, mas o que você ia achar? Entrando pela janela, pelo menos fica mais teatral. Sacumé? Você nunca leu Fausto?

Nat: O quê?

Morte: E se você tivesse visitas? Toco a campainha, entro em cena e você está servindo drinques a uma pessoa importante. Com que cara eu fico?

Nat: Olha, meu chapa, já está muito tarde.

Morte: Também acho. Bem, vamos?

Nat: Vamos pra onde?

Morte: Pra Morte. Aquele lugar, sabe, né? As Profundas. Lá onde o Judas perdeu as botas. (Olhando para o próprio joelho.) Puxa, me cortei feio. Era só o que faltava: pegar uma gangrena logo no primeiro dia de trabalho.

Nat: Espere um minuto! Preciso de tempo, ainda não estou pronto!

Morte: Desculpe, mas não dá. Gostaria de ajudar, mas a hora é essa.

Nat: Mas não pode ser! Acabo de fechar um negócio com 500 butiques!

Morte: Qual a diferença, um mísero dinheirinho a mais ou a menos?

Nat: É, vocês não se importam! Devem ter todas as despesas pagas, não é???

Morte: Como é, vamos ou não vamos?

Nat (olhando-o de alto a baixo): Ainda não acredito que você seja a Morte.

Morte: Por que não? Estava esperando quem? Rock Hudson?

Nat: Não, não é isto.

Morte: Desculpe se o desapontei.

Nat: Não se desculpe! Sabe, é que sempre achei que você fosse… um pouco mais alto, sei lá…

Morte: Tenho 1 metro e 60. Está bom para o meu peso.

Nat: Você se parece um pouco comigo…

Morte: E com quem queria que eu me parecesse? Afina!, eu sou a sua Morte!

Nat: Me dê mais algum tempo! Talvez mais um dia!

Morte: Não dá pô.

Nat: Só mais um dia! 24 horas!

Morte: Para que mais um dia? O rádio disse que vai chover amanhã.

Nat: Será que não podíamos entrar num acordo?

Morte: Por exemplo?

Nat: Você joga xadrez?

Morte: Não.

Nat: Mas certa vez eu vi um desenho seu jogando xadrez!

Morte: Não podia ser eu, porque não jogo xadrez. Biriba, sim.

Nat: Você joga biriba?

Morte: Se eu jogo biriba? Sou o rei da biriba!

Nat: Então vou te dizer o que vamos fazer…

Morte: Não venha fazer nenhum trato comigo!

Nat: Vamos jogar biriba. Se você ganhar, eu vou com você agora. Se eu ganhar, você me dá um tempinho – só um dia. Tá fechado?

Morte: E quem tem tempo para jogar biriba?

Nat: Vamos nessa. Se você é assim tão bom…

Morte: Olhe, até que eu gostaria…

Nat: Ora, não seja desmancha-prazeres. Uma meia-hora, no máximo.

Morte: Está bem, mas eu não devia…

Nat: Vou pegar as cartas já, já!

Morte: Mas só um pouquinho, hem? Pelo menos, vai me relaxar.

Nat (trazendo cartas, lápis e bloco): Você vai se arrepender.

Morte: Cale a boca, já estou convencido. Agora dê as cartas e me traga a mineral que eu pedi. Que diabo, um estranho entra em sua casa e você não lhe oferece nada para beliscar!

Nat: Tenho umas batatinhas fritas lá embaixo.

Morte: Batatinhas fritas! E se fosse o Presidente? Também lhe oferecia batatinhas fritas?

Nat: Mas você não é o Presidente.

Morte: Dê!

(Nat dá cartas e abre uma trinca.)

Nat: Vamos jogar a um centavo o ponto, para ficar mais interessante?

Morte: Porquê? Não está interessante que chegue?

Nat: Jogo melhor a dinheiro.

Morte: Esta bem, Newt.

Nat: Nat. Nat Ackerman. Não sabe nem meu nome?

Morte: Newt, Nat, que diferença faz? Estou com dor de cabeça.

Nat: Vai pegar a mesa?

Morte: Não.

Nat: Então compre.

Morte (examinando a própria mão): Raios, não tenho nada que preste.

Nat: Como é o negócio lá?

Morte: Que negócio?

Nat: A Morte.

Durante todo o diálogo seguinte, eles compram e descartam.

Morte: É como devia ser? Dorme-se o tempo todo.

Nat: Há alguma coisa depois da vida?

Morte: Ahá, você está guardando os valetes!

Nat: Existe alguma coisa depois da vida?

Morte (ausente): Você vai ver.

Nat: Ah, quer dizer que vou ver alguma coisa?

Morte: Bem, acho que eu não devia ter dito a coisa desta maneira. Vamos, compre.

Nat: É difícil arrancar uma resposta de você, hem?

Morte: Estou jogando biriba.

Nat: Está bem, então jogue?

Morte: E, enquanto isto estou te dando uma carta depois da outra.

Nat: Não fique olhando o que estou apanhando.

Morte: Não estou olhando. Qual foi a última carta que eu joguei aí?

Nat: O quatro de espadas. Está pronto para bater?

Morte: Quem disse que eu estou pronto para bater? Só perguntei qual tinha sido a última carta!

Nat: E eu só perguntei se havia lá alguma coisa para mim ver!

Morte: Jogue.

Nat: Me diga alguma coisa. Para onde estamos indo?

Morte: Que história é essa de nós? Você é quem vai. Bate com a cabeça no chão e pronto.

Nat: Não brinque. Dói muito?

Morte: Um segundinho só.

Nat: Incrível! (Suspira.) Depois de um contrato com 500 butiques…

Morte: Ah, finalmente uma canastra!

Nat: Você bateu?

Morte: Não, só fiz uma canastra.

Nat: Então, quem bate sou eu.

Morte: Você está brincando.

Nat: Não. Você perdeu. Vou pegar o morto. Sem trocadilho.

Morte: Merda. E eu achando que você estava guardando os valetes!

Nat: Vamos lá, jogue, enquanto eu examino o morto. Bato com a cabeça no chão, não é isso? Não posso bater com a cabeça no sofá?

Morte: Não. Jogue.

Nat: Porque não?

Morte: Porque não! Pô, deixe-me concentrar!

Nat: Mas por que tem que ser no chão? Por que não no sofá?

Morte: Está bem, vou fazer o possível. Agora, podemos jogar?

Nat: É isso que eu estava dizendo. Você me lembra Moe Leifkowitz. Ele também é teimoso

Morte: Eu lembro Moe Leifkowitz. Essa é boa! Eu, uma das figuras mais aterrorizantes do universo, lhe lembro Moe Leifkowitz! O que ele faz? Forra os vestidos?

Nat: Coitado de você para forrar vestidos como ele. Leifkowitz ganha 80 mil dólares por ano! Enfeites, guarnições, faz de tudo. Mais uma canastra real.

Morte: O que?

Nat: Mais uma canastra. Vou bater. O que você tem?

Morte: Futebol.

Nat: Esta eu ganhei.

Morte: Se você não falasse tanto.

Dão as cartas de novo e continuam o jogo.

Nat: O que você quis dizer há pouco quando disse que este era o seu primeiro trabalho?

Morte: O que você acha?

Nat: Como o que eu acho? Então ninguém morreu antes?

Morte: Claro que morreram. Só que não fui eu quem os levou.

Nat; Então quem foi?

Morte: Outros.

Nat: Então há outros?

Morte: Claro! Cada um vai de um jeito.

Nat: Eu não sabia disto.

Morte: E por que deveria saber? Quem você pensa que ê?

Nat: Que história ê essa? Então não sou nada?

Morte: Não exatamente nada. Você é o proprietário de uma confecção. Por que deveria conhecer os mistérios da eternidade?

Nat: Ah, é? Pois fique sabendo que eu ganho muito dinheiro. Formei meus dois filhos. Um trabalha em publicidade, o outro se casou. Esta casa é minha. Tenho um carro do ano. Minha mulher tem o que quer. Não sei quantas empregadas, casaco de pele, férias, o diabo a quatro. Neste exato momento, está viajando, para visitar a irmã. Eu deveria me reunir a ela semana que vem. Então, pensa que eu sou algum duro?

Morte: Está bem, está bem. Não seja tão sensível.

Nat: Quem é sensível?

Morte: E quem foi que me insultou primeiro?

Nat: Eu te insultei?

Morte: Você não disse que estava desapontado comigo?

Nat: E o que queria que eu fizesse? Que desse uma festa pela sua chegada?

Morte: Não é isso. Refiro-me a mim. Disse que eu era nanico, que era isso e aquilo.

Nat: Eu disse que você se parecia comigo. Estava só pensando em voz alta.

Morte: Está bem, dê logo essas cartas.

Os dois continuam a jogar, enquanto a música diminui e as luzes vão se apagando até a escuridão total. Luzes voltam a se acender aos poucos. Passou-se algum tempo e o jogo acabou. Nat está fazendo as contas.

Nat: Sessenta e oito… 150… Bem, você perdeu.

Morte (olhando desanimado para o baralho): Eu sabia que não devia ter descartado aquele nove. Merda.

Nat: Então, nos vemos amanhã!

Morte: Que história é essa de me ver amanhã?

Nat: Ganhei mais um dia. Agora, deixe-me em paz.

Morte: Você estava falando sério?

Nat: Tratou, está tratado.

Morte: Eu sei, mas…

Nat: Não tem mas, nem meio mas. Ganhei 24 horas. Volte amanhã.

Morte: Eu não sabia que estávamos jogando a valer tempo.

Nat: Pior pra você. Devia ter prestado atenção.

Morte: E o que eu vou fazer pelas próximas 24 horas?

Nat: E o que me importa? O fato é que eu ganhei mais um dia.

Morte: Mas o que vou fazer? Vagabundear pelas ruas?

Nat: Arranje um hotel e vá ao cinema. Tome uma cerveja. Não crie caso.

Morte: Some esses pontos de novo.

Nat: E, além disso, você me deve 28 dólares.

Morte: O quê?

Nat: É isso aí, bicho. Olhe aqui. Leia.

Morte (revirando os bolsos): Só tenho uns trocados. Mas não 28 dólares!

Nat: Aceito cheque.

Morte: Mas não tenho conta em bancos!

Nat (para a platéia): Estão vendo contra quem estou jogando?

Morte: Pode me processar. Como você quer que eu tenha uma conta no banco?

Nat: Está bem, dê-me o que você tiver e fica por isso mesmo.

Morte: Escute, eu preciso desse dinheiro!

Nat: Pra quê?

Morte: Que pergunta é esta? Você está indo para o Além!

Nat: E daí?

Morte: Isso fica longe pra chuchu!

Nat: E daí?

Morte: E a gasolina? E os pedágios?

Nat: Estamos indo de carro???

Morte: Você vai descobrir. (Agitado.) Olhe aqui. Vou voltar amanhã, e você tem de me dar a chance de ganhar aquele dinheiro de volta. Se não, estou rigorosamente frito.

Nat: O que você quiser. Mas vamos dobrar a parada, ou nada. Pode ser até que eu ganhe mais uma semana ou mês. E, do jeito que você joga, talvez até alguns anos.

Morte: Enquanto isto, não tenho onde cair morto.

Nat: Até amanhã.

Morte (sendo levado até aporta:) Há um bom hotel por aqui? Que diabo, não tenho dinheiro. Vou ter de dormir no parque. (Pega o jornal.)

Nat: Rua! E me devolva o jornal. (Torna-o de volta.)

Morte (saindo:) Fui um idiota em ter topado aquele jogo. Devia tê-lo pegado e saído.

Nat: E cuidado na hora de descer. O tapete está solto no primeiro degrau!



Nesta deixa, ouve-se um barulho terrível. Nat suspira, vai até a mesinha-de-cabeceira e pega o telefone.

Nat: Alô, Moc? Sou eu. Escute. Não sei se isto foi uma brincadeira de mau gosto, mas a Morte esteve aqui, jogamos um buraquinho… Não, a Morte! Em carne e osso. Ou alguém que estava querendo se fazer passar pela Morte. Mas, seja quem for, Moc, que babaca!

DESCE O PANO

About Mauro Condé [ MaLuCo:) ] 3589 Articles
Nascido em Belo Horizonte, Mauro Lúcio Condé carrega uma bagagem profissional de muito prestígio. De simples operário, Condé chegou à diretoria da General Eletric e também passou por grandes empresas como EDS e GEVISA, mas consagrou de vez sua carreira no Citibank, do qual foi Diretor Executivo de Qualidade e depois como executivo do Banco Itaú e Telefônica. As mais de quatro décadas de experiências levaram Mauro Condé a abrir sua própria empresa de consultoria e ministrar palestras no Brasil e no mundo.
Contact: Twitter

Be the first to comment

Leave a Reply

Your email address will not be published.


*