Se você nasceu em ano par, vai morrer num ano ímpar – Se você nasceu num ano ímpar vai morrer num ano par.
Esta era a frase de um sujeito apelidado de Zé do Cemitério pelos amigos.
Ele vivia repetindo : Se você nasceu em ano par, vai morrer num ano ímpar – Se você nasceu num ano ímpar vai morrer num ano par.
Parecia uma obsessão fúnebre que ele tinha.
Ele devia ter alguma depressão associada a um forte medo de morrer.
Uma vez ele contou que descobriu a teoria que tanto repetia depois de assistir a um programa de entrevistas, onde ele ouviu pela primeira vez esta tese de um outro sujeito tão louco pela morte quanto ele.
A partir daquele dia, ele adotou a frase do ano do nascimento e do ano da morte como lema de vida (se é que se pode ter a morte como lema de vida).
Ele criou desde então uma mania nova e estranha = passou a constantemente frequentar velórios, cemitérios e principalmente enterros – fossem de amigos ou de estranhos.
Muitas vezes ele foi a enterros em outras cidades – pegava um ônibus na rodoviária e chegando na cidade desconhecida, fazia questão de descer em frente ao cemitério da cidade e entrar para uma visita.
Zé do Cemitério transformou isto num vício, que só aumentava a cada dia, por isto o apelido dos amigos.
Para completar a sua loucura pela morte, ele comprou um caderno de anotações e saia pelos cemitérios afora fazendo um levantamento estatístico dos anos de nascimento e morte dos defuntos e por incrível que pareça ele descobriu que o louco da entrevista da TV estava certo.
Um dia sentado numa mesa de bar tomando uma cerveja e conversando com uma roda de curiosos que ficava ao seu redor, Zé do Velório mostrou todas as suas anotações feitas em 3 colunas : – nome do morto, ano de nascimento e ano da morte – e na última página ele tinha um resumo matemático e estatístico que provava a sua teoria – na média, com a precisão de um desvio padrão e meio para mais ou para menos, as pessoas que nasceram em anos pares morreram em anos ímpares e as que morreram em anos ímpares, nasceram em anos pares – era a sua amostra baseada nas visitas a vários túmulos ao longo dos anos.
Alguns curiosos que não entendiam de matemática e estatística desconheciam que o tal de desvio padrão que ele falava era uma medida de precisão estatística e saiam dali comentando que o sujeito era portador de uma outra doença mental – um desvio novo, um tal de desvio padrão kkk
O Zé do Cemitério não esta mais vivo. Ele morreu em 2013 e nasceu em 1958. Ele acabou entrando para a sua própria estatística – Quem nasce em ano par, morre em ano ímpar e vice-versa.
Lembrando desta história e vendo a notícia de morte de pessoas famosas e queridas, fiz um pequeno levantamento para ver se a teoria do Zé do Cemitério ainda se aplica nos dias de hoje e vejam o que eu encontrei, através de uma anotação semelhante a que fazia em seu caderninho, baseada em dados que peguei na internet de forma totalmente aleatória – me lembrava do nome do famoso que tinha morrido e pegava os dados para a amostra estatística e não os selecionava previamente para não induzir a pesquisa :
Nome da pessoa |
Ano do Nascimento |
Ano da Morte |
João Ubaldo Ribeiro |
1941 – ano ímpar |
2014 – ano par |
Ariana Suassuna |
1927 – ano ímpar |
2014 – ano par |
Rubem Alves |
1933 – ano ímpar |
2014 – ano par |
Reginaldo Rossi |
1944 – ano par |
2013 – ano ímpar |
Luciano do Vale |
1947 – ano ímpar |
2014 – ano par |
Dr.Osmar de Oliveira |
1943 – ano ímpar |
2014 – ano par |
Fernandão – ex jogador |
1978 – ano par |
2014 – ano par * |
Hebe Camargo |
1929 – ano ímpar |
2012 – ano par |
Amy Winehouse |
1983 – ano ímpar |
2011 – ano ímpar* |
Emílio Santiago |
1946 – ano par |
2013 – ano ímpar |
Wando |
1945 – ano ímpar |
2012 – ano par |
Mundo estranho este, você não acha?
Crônica do MaLuco
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