Para ilustrar esta crônica, escolhi a obra de arte, o quadro – pintura óleo sobre tela – “A Governanta” do pintor francês Jean Baptiste Simeon Chardin de 1739.
Já passava do meio dia.
Ela entrou no quarto.
A luz estava apagada, o lugar estava super quieto e a janela fechada.
Esticou o braço, foi até o interruptor e teve uma surpresa quando a luz se acendeu.
O local estava arrumado e perfumado, como ela nunca tinha visto antes.
Foi em direção à janela e com um toque a abriu para a entrada dos raios solares.
Por alguns minutos, ficou ali em pé, pensativa parada diante da cômoda.
Tomou coragem, se abaixou e abriu a primeira gaveta.
Outra surpresa – a gaveta tinha uma grande toalha por cima dos outros objetos.
Ela puxou a toalha e descobriu que aquela grande e funda gaveta estava repleta de livros.
Enxugou uma lágrima que rolou por seus olhos provocada um sentimento de susto e de lembrança.
Lembrança porque ela se encontrava ali no quarto daquela que tinha sido a empregada da família por mais de duas gerações e que tinha acabado de ser enterrada naquela manhã, vítima de uma morte súbita enquanto fazia seu trabalho.
Susto porque ela tinha acabado de descobrir o grande segredo que a querida empregada carregou por toda a sua vida – durante anos, desde que começou a se entender por gente, ela ouviu a própria empregada dizer que era semi analfabeta e que seu maior sonho era poder um dia escrever um livro.
O segredo é que ela nunca tinha revelado que devorava livros daquele jeito.
Curiosa com a revelação, ela foi puxando todos os livros um a um, ficou surpresa com a erudição daquela pessoa pela qual nutria sentimentos de admiração e dó ao mesmo tempo.
A velha e querida empregada sempre falava do grande medo da morte que a assombrava por toda a vida e com a qual ela tinha acabado de se encontrar.
Ela mostrava algum arrependimento pelas escolhas que tinha feito ao longo da vida e agradecia muito àquela família por ser o seu porto seguro para não cair no mar da solidão.
E por fim ela descobriu que a empregada tinha encontrado nos livros algumas das respostas que ela mais buscava para seus questionamentos a respeito do sentido e do significado da vida.
Ela foi puxando todos os livros, um a um, até que descobriu lá no fundo, um envelope grande fechado com seu nome nome do lado de fora.
Surpresa e com as mãos trêmulas, ela abriu o envelope e encontrou um maço de páginas manuscritas enroladas por um elástico.
Na primeira página tinha um título :
“O Livro da Minha Vida”
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