Numa noite agitada pelos ruídos da cidade, Andrew conversa com Nicole, sua candidata a namorada numa lanchonete onde se encontram pela primeira vez.
Tímido e encolhido, ele responde a tentativa da moça de fazer contato com um “eu gostei muito daqui” – que abre logo um largo sorriso no rosto dela e depois completa : “adoro a música que eles tocam ” – o que fecha imediatamente o sorriso que ele tinha aberto.
Sem perceber a fisionomia de frustração dela, ele continua : ” Bob Ellis na bateria”.
Sou da orquestra de Jazz da Shafer, a melhor escola de música do país, diz ele narrando cenas que alternam entre a sua figura solitária e meio perdida olhando os prédios da cidade e a sua própria imagem sentado, com a cabeça para baixo, olhos fixos, quase “babando” em cima da bateria que tocava como se estivesse em transe.
Seu mentor, professor, chefe e instrutor, Fletcher chega ao local de ensaio, tira o chapéu mostra a cabeça brilhante e careca e chega para o candidato novato, tentando acalmá-lo diante de sua fisionomia de espanto e medo : – O segredo é relaxar. Olhando nos olhos do menino e tentando dominar a mente dele, exclama : Não se preocupe com os números, nem com o que os demais pensam.
Em seguida, eles se encontram novamente de frente um para o outro, o instrutor de pé como o maestro do grupo e o menino sentado na posição de baterista da orquestra. Ele olha nos olhos do menino e diz – vocês estão aqui por uma única razão : Divertir-se. E começa a sua tortura mental com um …5,6 e…
Novamente ele aparece conversando com a garota que interessada nele ouve : Eu quero ser extraordinário. E ela se espanta e se encolhe perguntando – E você não é?
O instrutor continua fazendo gestos com os braços abertos, uma camiseta preta e um olha intimidador.
Ele tenta fazer sua melhor performance na bateria diante dos olhos implacáveis do instrutor – que grita para o grupo : Temos Buddy Rich aqui. E publicamente começa a criticar a performance do menino, dizendo que ele está acelerando demais, pedindo para ele repetir a música na sua parte e novamente se irrita e atira uma cadeira na direção do jovem ambicioso e assustado com aquela tirania do seu chefe. Ele se abaixa para a cadeira não pegar nele e quando se levanta vê seu instrutor com os braços cruzados e cara de poucos amigos perguntando se ele estava acelerado ou atrasado. Repete mais alto e em público a pergunta e o menino amendrontado diz não saber como estava indo.
O instrutor começa a agredi-lo verbal e fisicamente com várias bofetadas e grita em tom ameaçador : – Se você sabotar deliberadamente a minha banda, eu te estripo feito um porco e depois ironiza o rapaz publicamente : – “Oh meus, ele é do tipo fresco inútil e daquelas mocinhas que choram e babam em cima da bateria.”
Andrew aparece conversando com o pai que pergunta ao filho cada vez mais introspectivo e calado : – Como vai a banda no estúdio filho?
Surpreendentemente o garoto sorri e responde : Bem, acho que ele gosta mais de mim agora.
De repente cenas alternadas mostram o garoto batendo violentamente na bateria com força, com raiva, com muita vontade de ser o melhor sendo cercado por todos os lados pelo terrorista do seu chefe, professor e mentor enquanto o valentão grita : eu pressiono além do que se espera das pessoas – acho absolutamente necessário – e o garoto meio que em transe gerado pelo stress fica repetindo : Eu quero ser o melhor. Eu quero ser o melhor. Eu quero ser o melhor…
Novamente aparece conversando com a sua candidata a namorada e pede para terminar tudo porque ele quer ser o melhor baterista e isto vai acabar com o relacionamento deles antes de começar.
Até o pai do garoto aparece dando um abraço no filho e gritando : eu jamais vou deixar aquele idiota torturar o meu filho. Por que deixá-lo impune pelo que faz? reage seu pai indignado.
O menino volta a aparecer na frente do professor carrasco e ouve da boca dele : Não existem duas piores palavras no nosso vocabulário do que : “bom trabalho”.
O filme vai passando e de repente o garoto aparece no palco de um teatro imenso lotado de pessoas ávidas por um bom som, seu pai inclusive.
Ele assume o comando da bateria e toca clássicos do Jazz onde a bateria se destaca. Enquanto ele executa sua performance naquele que pode ser o show da sua vida – que pode definir o início de uma carreira bem sucedida ou o fim de uma carreira fracassada, passa pela sua mente um filme da sua vida, dos seus sonhos, das suas lutas para tentar ser alguém, para tentar ser simplesmente o melhor.
Whiplash – em busca da refeição – um filme nota 8,5 na opinião de quase 290.000 pessoas que o assistiram e deram a nota no IMDB, estrelado pelo jovem Miles Teller e pelo “monstro” na interpretação J.K. Simmons
“Whiplash” é o titulo do filme e também de uma música famosa de Jazz que significa chicotada. Andrew, como vítima apanha na cara do seu carrasco, que o xinga de tudo quanto é jeito. Ele só aceita músicos perfeitos. Exige foco, concentração, dedicação e afinação. E sua melhor arma para conseguir tudo isso é a ameaça, a crueldade.
Métodos que funcionam muito bem para dar tempero a uma ficção mas quem nem de longe são indicados na vida real – existem formas mais inteligentes e mais humanas de extrair o potencial das pessoas, na minha opinião, sem dor e nem sofrimento de ambas as partes.
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