Outro dia, eu andava apressado pelas ruas da cidade, entrei correndo pelas portas de um grande shopping cheio de gente e fui logo me dirigindo a um dos lugares que eu mais adoro frequentar : Uma livraria.
De repente, avistei um livro que chamou a minha atenção : “O Mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam” – Nossa! Exclamei mentalmente para mim mesmo : Que coincidência!
Aquele livro tinha tudo a ver com uma das cenas que eu tinha acabado de presenciar nas ruas, alguns minutos antes :
Entre o caminho do metrô e do Shopping, uma cena me fez desacelerar os passos, parar, observar e até tirar uma foto com meu celular :
Era um mendigo, na casa dos 55 anos, cabeludo, barbudo, com ar de quem não tomava banho há mais de uma semana. sentado em cima de um cobertor sujo, comendo um pedaço de pão velho com a mão esquerda e segurando com a mão direita um livro que parecia absorver toda a sua mente a ponto dele nem piscar diante de suas páginas.
Aquela cena não só me impressionou, me chocou – me fez continuar o meu trajeto pensando sobre a solidão humana, sobre a situação de abandono que deveria estar vivendo aquele jovem senhor e o contraste com o seu gesto de ler apaixonadamente um livro, cujo título eu tentei ver e descobri que era sobre conceitos de filosofia.
Aí, de repente, eu me deparo com este livro que interpretei como um sinal de que eu deveria comprá-lo, de que eu deveria lê-lo. Foi o que fiz, peguei o livro, mostrei a foto que tinha acabado de tirar para a vendedora, que me disse acreditar que realmente era um sinal, pois aquele livro não ficava no estoque da livraria e por acaso, havia somente aquele exemplar disponível. Fui ao caixa e saí dali e fui parar direto numa cafeteria, onde gastei algumas boas horas me deliciando com a leitura.
Em resumo, não é um livro tão fácil, mas é um livro muito agradável.
O título por si só já gera alguma inquietação, pelo contraste que provoca – um mendigo erudito que passa grande parte do seu tempo ocioso lendo. E ainda mais um mendigo que se procura aprender filosofia, que lê Erasmo e ainda por cima mergulha nos adágios da loucura escrito por este grande filósofo.
É um livro deliciosamente provocante que despertou duas grandes reflexões na minha mente : como lidar com a solidão e o abandono dos parentes, dos amigos e das pessoas que passam apressadas dentro das rodas de suas preocupações. E como a leitura e principalmente o acesso à cultura exerce um papel na redução do sofrimento provocado pela dor do ato de viver.
O mendigo do livro é denso, é trise, é doce, é alegre, é poeta – como todo bom leitor, o mendigo é antes de tudo também um escritor – num mundo de pessoas “semianalfabetas” que apesar de terem acesso a dinheiro e a bens materiais, alegam não ter tempo para ler e para tomar um banho de loja de cultura periódico como forma de investir no seu interior como fazem com o a sua aparência exterior.
Este livro combina com uma causa que eu defendo apaixonadamente :
LEIA ! LEIA MAIS ! LEIA MUITO ! LEIA PARA SE TORNAR UMA PESSOA MELHOR ! M@LuCo:)
Deixe uma resposta