Jamais entregue uma tarefa com prazo super apertado para uma pessoa muito criativa concluir e jamais entregue uma tarefa de criação para uma pessoa excessivamente pró-ativa. Nestes dois casos o risco de você não conseguir resultados é muito alto.
Este é um dos aprendizados mais interessantes que adquiri ao longo da minha carreira como gestor de pessoas.
Eu já me surpreendi algumas vezes confiando trabalhos com prazos muito justos para pessoas criativas, porque as achava muito inteligentes e elas simplesmente não conseguiram entregar o trabalho dentro do prazo estabelecido.
Por outro lado, também já me surpreendi algumas vezes confiando tarefas de criação de produtos, serviços ou ideias novas para pessoas super pró-ativas, na expectativa delas usarem seu processo acelerado para produzir resultados, só que apesar de entregues antes do prazo estabelecido os resultados não eram nada criativos.
Intrigado com este fenômeno, resolvi investigar um pouco por que isto acontece e acabei descobrindo o seguinte:
Os maiores gênios do mundo, as pessoas mais criativas de todos os tempos são geralmente muito procrastinadores.
Acredito que algum processo existente dentro de suas mentes os leve ao hábito da procrastinação, da postergação das atividades a concluir até o último segundo possível do tempo programado, quando soa dentro de soas cabeças o botão do pânico pela chegada do momento final e fatal para conclusão de suas obras.
Na verdade, o que eu descobri é que a mente das pessoas muito criativas trabalha como um garimpo – elas ficam um tempão gerando quantidade, para só no finalzinho extrair qualidade da quantidade que processaram. Como no garimpo, em que o objetivo é encontrar a pepita de ouro e ela só é encontrada depois de dias, meses e até anos peneirando muito barro antes.
Os muito criativos tem uma tendência a serem originais e como tal eles têm um talento incomum para ter novas ideias brilhantes as quais defendem com unhas e dentes.
As pessoas genialmente criativas são as que mais mudam e revolucionam o mundo. A história das maiores descobertas e invenções que mudaram o mundo mostra isso.
Só que, como nem todo mundo é perfeito, os gênios criativos não são confiáveis em termos de prazo. Mas isto não pode ser considerado um defeito, pois é no fundo uma qualidade.
Ai descobri lendo um texto do psicólogo organizacional, pesquisador e escritor Adam Grant, que afirma que as pessoas mais criativas do mundo precisam procrastinar para criar.
Pelo que li dele, os maiores gênios criativos são os reis da procrastinação, mestres em adiar indefinidamente as coisas até o último segundo possível. Criativos são procrastinadores crônicos.
O que geralmente enerva os outros, a atividade de procrastinar indefinidamente é entendida pelos muito criativos como tempo para pensar algo novo, original e revolucionário.
É que quando procrastinam, depositam suas ideias dentro de um tanque parecido como uma incubadora instalada em suas mentes – as ideias ficam lá armazenadas no fundinho enquanto pensam ou fazem outra coisa não relacionada ao que precisam terminar.
Adam pesquisou e confirmou sua hipótese em inúmeros casos – descobriu que Leonadro Da Vinci levou 16 anos para concluir a pintura da Monalisa e por isso se achava um tremendo fracasso, de acordo com o que escreveu em seus diários. O que ele descobriu ao final desta eternidade de tempo para concluir uma obra é que, na verdade, ele estava este tempo todo aprimorando (até sem saber) sua visão de ótica, sua capacidade de pintar e modelar a luz o que o tornou o gênio que conhecemos.
Adam também descobriu que Martin Luther King produziu um dos discursos mais memoráveis da história em cima da hora, apenas no dia do discurso foi que ele se dedicou a produzi-lo horas antes e quando subiu ao palco acabou por pronunciar uma frase que marcou a sua fala e mudou o mundo. Ele disse a memorável: “Eu tenho um sonho”.
Detalhe: esta frase não estava escrita em lugar nenhum, surgiu na hora, quando ele resolveu abandonar o texto e falar de improviso diante da pressão de falar algo com muito sentido.
Segundo pesquisas, o hábito de adiar decisões e ações até o último segundo permite com que a pessoa fique aberta a maior gama de ideias possíveis.
Ansiedade e perfeccionismo não são qualidades trabalhadas pelos gênios criativos – pois tudo o que começam demoram muito para terminar.
No fundo os muito criativos apesar de parecerem confiantes, estão lotados de medos, incertezas e dúvidas como todo mundo – eles só administram isso de forma diferente – eles se energizam com suas dúvidas e as utilizam para refinar seu processo de pensamento e geração de novas ideias.
Eles valorizam os rascunhos, as primeiras ideias rabiscadas no papel que acabam indo para o lixo – elas são a verdadeira matéria prima da criatividade. Eles administram o seu medo de fracassar contrapondo-o com outro medo: o de não tentar.
Outro achado: os criativos têm um estoque de ideias ruins maior do que a média e uma história de fracasso infinitamente superior aos demais – o que eles fazem é usar isto a seu favor –tropeçando, caindo e melhorando sempre.
Portanto, se quiser aumentar a sua criatividade use a receita dos gênios mais criativos da história: comece logo as coisas, mas reduza seu perfeccionismo e ansiedade e deixe suas ideias incubando até o prazo máximo, pois neste período você pode ter o insight da sua vida.
Este post foi escrito para ajudar as pessoas a se conhecerem um pouco melhor e ajudar também aqueles que têm responsabilidade de gestão de outras pessoas.
Diferenciar os “Thinkers” (Os Pensadores) dos “Doers” (Os fazedores) vai ajudar a obter mais resultados. Não existe um melhor do que o outro, tanto os pensadores quanto os fazedores são bons e muito importantes, reconhecer suas características e ajustá-las para o seu perfil é que é o segredo.
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Altamente, a melhor coisa que li hoje… Mauro Condé, parabéns e obrigado pelo artigo!