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DICA DE FILME EXCELENTE QUE ALÉM DE RELAXAR TE FARÁ QUESTIONAR A FORMA COMO RESOLVE OS CONFLITOS CONSIGO MESMO, COM SEUS VIZINHOS, SEUS AMIGOS E PARENTES:

“Eu fujo dos meus pensamentos, vivo fugindo”

Frase inspiradora do dia – do personagem Ziad (Ali Suliman) no filme “Lemon tree”


Salma Zidane, uma simples e solitária viúva, morava numa casa simples localizada na Cisjordânia, bem junto à fronteira com Israel. Levava a vida descascando os seus limões e fazendo limonada com eles, literalmente.

Morava numa casa com paredes pintadas em tons que lembravam as cores desta fruta e até suas roupas e seus vestidos combinavam com a ela com a sua plantação caseira.

Ela bebia limão, estocava limão, vivia em torno de um limão, desde que se entendia por gente, ainda bem menina.

Por uma tradição de 60 anos da sua família e por herança do seu pai, ela passava a maior parte do seu dia na plantação de seus limões, com uma roupa verde escuro e avental amarelado que combinava com os belos pés de limões que ele tão bem cuidava.

Até que um dia ela se pegou sendo observada de longe por duas mulheres da casa em frente, sendo uma delas, a nova moradora que observava boquiaberta o seu lindo quintal.

Por causa destes seus novos vizinhos, enormes cercas eletrificadas foram instaladas por sobre o muro que separava as duas casas e um oficial do Estado de Israel lhe avisou que seus pés de limão teriam que ser cortados em nome da segurança do novo dono da casa ao lado – ninguém mais, ninguém menos do que o poderoso Ministro da Defesa de Israel.

De uma hora para outra, seu quintal e sua plantação passou a ser considerada zona militar altamente perigosa e ela até foi confundida por seguranças fortemente armados que chegaram a lhe apontar uma arma e também para seu inofensivo e velho jardineiro, quando estes faziam a colheita matinal periódica dos limões .

Assustados e sempre atentos, os seguranças não hesitavam diante de qualquer barulho ou movimento na casa ao lado, coberta pelos pés de limão agora considerados ameça internacional.

Certa vez ela olhou incrédula um guindaste ao lado da sua casa fixando uma guarita blindada daquelas usadas em casos de guerra.

Irritada, assustada e bastante incomodada e com medo de perder seus pés de limão, o seu quintal e até a sua casa, ela acionou um advogado compatriota para entrar na justiça e exigir seus direitos.

Este por sua vez, tentou inicialmente dissuadi-la do plano e aceitar a indenização em dinheiro que o vizinho e o estado de Israel ofereciam em compensação pelo corte de suas árvores.

Ela foi implacável, exigiu que ele entrasse com a ação e passou a ter ataques de fúria e de raiva contra os guardas quando ela os via invadirem o seu quintal para manter a segurança do Ministro vizinho.

Chegou a protagonizar uma cena no dia da festa da inauguração da casa dos vizinhos – atirando limões velhos nos convidados vizinhos, que tinham ido apanhar alguns limões que, por ironia do destino faltavam na festa de seus vizinhos recém-nomeados inimigos.

Ela lançava olhares de medo, de ódio, de raiva, de frustração contra todos do outro lado da cerca e só se derreteu um pouco quando a mulher do ministro aparaceu e pediu desculpas publicamente pelo incômodo.

O drama foi ganhando proporções midiáticas e o ministro chegou a ser entrevistado por vários repórteres ao lado da cerca para se pronunciar sobre a corajosa vizinha que brigava na justiça para proteger seu território, seus direitos e sua herança de família.

Firme em seu propósito, ele chegou a ter oposição dentro de sua própria casa, com a esposa sensibilizada pela situação da pobre coitada moradora da casa ao lado.

O caso foi a julgamento e mereceu apelamento para instâncias superiores por causa da insistência da pequena proprietária que defendia seus pés de limão dizendo que não deixaria ninguém jamais tocar neles, muito menos derrubá-los.

Publicamente ela aparecia com a cabeça coberta por um lenço, de acordo com as tradições de seu país e com o rosto sempre firme e altivo, ainda que de vez em quando, algumas lágrimas insistissem em correr pelos seus olhos por causa da ansiedade, da angústia e da depressão que aquela situação gerava.

O caso ganhou proporções jurídicas de ultima instância, notoriedade internacional, surpreendendo até o jovem filho de Salma que a viu em pleno noticiário internacional pela TV do restaurante onde trabalhava de garçom nos Estados Unidos.

Determinada a agir até onde fosse preciso, ela vivia dentro de sua própria solidão, cuja porta ela deixou abrir uma única vez para um envolvimento e uma aventura rápida e surpreendente induzida pela drama que vivia.

Ela apelou, se defendeu, foi à Corte Suprema e se emocionou muito com o depoimento emocionado de seu velho e simples jardineiro quando ele comparou as suas árvores com pessoas, dizendo que elas também têm sentimentos, têm alma e que matar as árvores seria um crime igual ao de matar pessoas inocentes.

Seu drama foi crescendo e ela se sentiu ameaçada até por parentes, amigos e autoridades do seu país que queriam que ela se submetesse e não enfrentasse os homens, muito menos os poderosos daquela forma.

Quanto mais ela lutava, mais lembranças ela tinha de seu saudoso e falecido pai – com os dois trabalhando juntos na colheita dos limões.

Uma noite ela foi acordada em pleno sono, por uma série de militares fortemente armados que invadiram a sua casa à procura de supostos terroristas que ameaçavam a vida do Ministro, para piorar ainda mais a sua situação.

Ela chorou muito e a sua dor fez chorar a sua vizinha poderosa, a mulher do ministro, cujo casamento entrou em crise por causa daquele incidente.

O filme termina com o julgamento do caso, com a decisão da suprema corte e com uma velha solução para seu drama amoroso iniciado durante o processo.

Eu não vou contar detalhes, para não atrapalhar a sua diversão, procurei relatar a sequência histórica dos fatos para despertar a sua atenção, mas você precisa ver o filme para sentir passar na frente dos seus olhos uma bela obra de arte, tanto em termos de narrativa, quanto em termos visuais.

Veja-o com atenção aos pequenos detalhes, como o sobrenome da protagonista Zidane, um quadro sobre futebol num dos quartos de sua casa e jaqueta que usou seu advogado (com o símbolo de uma grande seleção do futebol mundial ) numa das cenas emblemáticas da trama.

Filme emocionante, comovente, envolvente e que vai te fazer questionar sobre a forma como você resolve seus próprios conflitos consigo mesmo, com seus amigos, vizinhos e parentes.

Bom para quem gosta e tem curiosidade por história, por geografia, por política e conflitos internacionais, bom para quem gosta de uma boa aventura e um bom texto narrativo ou bom para quem tá só a fim de relaxar sem pensar muito – incrivelmente bem feito e bem trabalhado.

O filme tem nota 7,4 na opinião de quase 6000 espectadores no IMDB.

Lemon Tree é um excelente filme Israelense de 2008, dirigido pelo excelente Eran Riklis – detalhe – a atriz Hiam Abbass é perfeita no papel – nos mínimos detalhes de sua atuação – merecia um Oscar.

Repito, uma obra de arte, recheada de metáforas sutis sobre os conflitos humanos – Se puder não deixe de assistir – vale a pena!

Veja o trailer :

Sobre Mauro Condé [ MaLuCo:) ] 3584 Articles
Nascido em Belo Horizonte, Mauro Lúcio Condé carrega uma bagagem profissional de muito prestígio. De simples operário, Condé chegou à diretoria da General Eletric e também passou por grandes empresas como EDS e GEVISA, mas consagrou de vez sua carreira no Citibank, do qual foi Diretor Executivo de Qualidade e depois como executivo do Banco Itaú e Telefônica. As mais de quatro décadas de experiências levaram Mauro Condé a abrir sua própria empresa de consultoria e ministrar palestras no Brasil e no mundo.
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